segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Chiado

Chuva, chore
chore chuva que chia
chicoteia o teu chão

Chuva, chore
chore o chefe, o chato, os chauvinistas
chame chorosa pela chama e pelas chagas

Chuva cheia de chá e de chopin
Chuva num chalé com cherry
Chuva, chegue...

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Filhinhos de papai!

                              "São um bando de filhinhos de papai", "Ahhhh, olha essa blusa da GAP", "Se tivessem que trabalhar não estariam aí".

                              Bom, quero dar os parabéns às pessoas que dizem essas frases. Os estudantes que ocuparam a USP são SIM filhinhos de papai, em sua grande maioria. A classe trabalhadora não está lá. E não está lá exatamente porque ela precisa trabalhar! Eles não têm tempo para reivindicar seus próprios direitos, não podem simplesmente virar pro patrão e dizer "então, to indo ali brigar para que você me explore menos, já volto". Eu mesmo, há anos não me envolvo mais intimamente com nenhum movimento social. Por que não quero? Não, porque amanhã às 8h tenho uma reunião do trabalho, e uma série de compromisso em que mais pessoas dependem de mim.

                              A estrutura em que vivemos é feita exatamente para trabalhadores não poderem lutar contra o fato de não poderem lutar e que ainda se orgulharem disso. Quais são as esperanças, então? Sim, os filhinhos de papai! Que não têm culpa nenhuma de o serem, aliás. Ser filhinho de papai não é demérito nenhum e nem argumento! Todas as revoltas populares foram feitas por filhinhos de papai.

                             Na luta pelo fim da ditadura militar que nos assombrou, por exemplo, foram filhinhos de papai que foram às ruas, enquanto a classe trabalhadora os chamavam de criminosos, influenciados pelos patrões e pelas grandes mídias. Ou os cara-pintadas (ô movimentozinho picareta, aliás) eram boias-frias e camelôs?!

                          Trabalhadores não aprenderam política na escola, não aprenderam sobre exploração ou sobre seus direitos. Eles também não têm o hábito de ler, chegam exaustos do seu dia de trabalho e o máximo que eles conseguem processar depois disso são novelas. Quem luta tem que ter formação política, tem que ter debate, tem que discutir ideias. E quem tem tempo pra isso são os filhinhos de papai.

                         "Filhinho de papai" não é argumento e, por mais irônico que possa ser, eles são um certo tipo de esperança.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O Big Brother, o Datena e a Polícia Militar na USP

                              Muito tem se falado sobre a presença da polícia militar no campus da USP em São Paulo. Tenho estado um tanto alheio às notícias, lendo algumas manchetes, mas não passando muito daí e ainda assim me estranha a ingenuidade com que o assunto todo é tratado. Esse é um texto de alguém que participou ativamente de uma das maiores greves da história das estaduais paulistas (2007), era assíduo às assembleias, participou de alguma maneira das ocupações das reitorias da Unicamp e da USP na época e flagrou seus olhos umedecendo, ao participar de uma assembleia com algumas milhares de pessoas na própria USP naquele mesmo ano. Mas também é um texto de alguém que amadureceu bastante aquelas ideias dos 18 anos e já não vive a universidade há uns dois, apesar de ter saído dela há menos de um. Ah, e antes que alguém venha com esse argumento, não sou um "playboyzinho de merda que fica mamando nas tetas dos pais" (como se isso fosse argumento), trabalho e me sustento desde o primeiro ano de Unicamp.

                             Primeiro, é necessário entender algumas coisas: o estado possui a hegemonia da violência e as leis devem ser respeitadas, você concorde ou não. Isso não está colocado em discussão.

                           A USP está vivendo hoje um reflexo de um movimento que tem cada vez mais tomado conta do Brasil: o medo. A cidade de onde eu vim é rodeada de câmeras de monitoramento por todos os lados e quem monitora é a polícia. Na época de seu anúncio houve toda uma mobilização, a inauguração da primeira câmera pelo prefeito, minutos e minutos dedicados a elas nos jornais locais, mais segurança para a população sorocabana! Assaltos sendo resolvidos em tempo recorde, diminuição drástica dos pequenos delitos no centro da cidade, uma maravilha. A própria Unicamp foi rodeada pelo grande irmão, com grande apoio da comunidade acadêmica e são cada vez mais frequentes os gritos de pena de morte ou prisão perpétua. Abrimos mão de nossas liberdades individuais e de nosso livre arbítrio ao morar num condomínio, ao evitar sair de casa a noite, ao achar que todo pobre e negro é um assaltante em potencial, é a datenização da nossa sociedade. Tudo em nome da segurança, tudo em nome do medo.

 “Tirou do bolso uma moeda de vinte e cinco centavos. Ali 
também, em letras minúsculas, porém nítidas, liam-se as mesmas frases;
 do outro lado a cabeça do Grande Irmão. Até do dinheiro aqueles olhos o perseguiam. 
Moedas, selos, capas de livros, faixas, cartazes, maços de cigarro – em toda parte.
 Sempre os olhos fitando o indivíduo, a voz a envolvê-lo.
 Adormecido ou desperto, trabalhando ou comendo, dentro e fora de casa,
 no banheiro ou na cama – não havia fuga. 
Nada pertencia ao indivíduo, com exceção de alguns centímetros cúbicos dentro do crânio.”
1984 - George Orwel


                           É nesse contexto que se dá a entrada da polícia militar (aliás, somos um dos únicos países do mundo em que a polícia ainda é militar) nos campi das universidades públicas, redutos históricos de resistência e luta pela liberdade, seja ela vinculada à democracia ou não. A reitoria da USP realizou o convênio com a PM após uma morte dentro do campus em maio desse ano e a crescente onda de estupros e violência que lá ocorre, não diferente do que vemos aqui na Unicamp e nos seus arredores. Infelizmente, tenho certeza absoluta que, se aluno por aluno do campus for consultado, a grande maioria é a favor sim da presença militar naquele local. Tudo em nome da segurança, tudo em nome do medo.


                          Era esperada a hora em que as reitorias das universidades, indicadas pelos governadores de direita eleitos pelo povo do nosso estado, lançassem mão dos meios legais que possuem para acabar com os desrespeitos à lei que ocorrem no campus, seja ele um assassinato, um assalto ou uma maconha (sim, é colocado tudo num mesmo balaio).

                           A grande questão que está colocada é essa, até onde aceitaremos perder nossas liberdades individuais por isso? Essa deve ser a luta dos estudantes que estão enfrentando a polícia na USP, essa deve ser a bandeira deles! E esse é o grande problema dos movimentos estudantis. Nunca conseguem um foco, nunca conseguem deixar claro para a sociedade o que querem, acabam se afogando na própria ânsia em conseguir realizar a revolução essa semana. Daquela assembleia com a presença de milhares de pessoas que citei acima saíram nada mais, nada menos que 87 reivindicações do movimento. Oitenta e sete!!!
                           Um exemplo do quão desorganizado é o movimento que se forma na USP é que numa assembleia há dois dias foi decidido desocupar o prédio da FFLCH, mas um grupo não contente com a decisão simplesmente realizou outra assembleia ontem e decidiu ocupar a reitoria. Aqueles que estão ocupando a FFLCH ainda também não desocuparam o local. As assembleias são como uma instituição sagrada às organizações estudantis, o argumento contra aqueles que discordam das posições é: "Foi decidido em assembleia, deveria ter ido". Mas agora, que a decisão da assembleia (provavelmente lotada de estudantes a favor da presença da PM no campus) tomou uma decisão contrária àquela defendida pelos "manifestantes", eles simplesmente não a respeitam. É assim que o movimento estudantil vai cada vez mais perdendo o foco e o apoio do restante da sociedade. É realmente uma pena assistir a esse definhamento de tão perto.

                        Por fim, a questão não é sobre fumar maconha ou não no campus, não pode fumar maconha no campus, não pode fumar maconha na rua, não pode fumar maconha em bar, não pode fumar maconha em casa, é ilegal! E não é pelo fato de ser ilegal que não deve ser feito, mas as consequências estão postas na mesa, caso você seja pego. Os policiais estão certos em levar os três estudantes que estavam fumando para a delegacia, e enquanto o movimento estudantil pautar suas decisões por aí, nunca terá o apoio da comunidade. A discussão é a privação de nossas liberdades, a opressão de um espaço histórico de lutas, o lado negro do estado presente nas instituições do próprio estado.

domingo, 2 de outubro de 2011

Risonha e corrosiva *

                     No masturbar da mente o compositor escreve, rabisca, setas apontam as emendas. O dicionário está posto, a chuva fina insiste em brotar, a cada palavra uma cicatriz nasce enquanto se coloca a pensar nas maiores das dores, causadas pelos maiores dos amores.

                    Seu melhor terno, o sapato engraxado, a lua sobre o chapéu, ingressos em mãos. Mãos que passam pelo seu corpo antes de poder entrar. Poltrona 15D, o assento é aveludado, a vista razoável, o melhor que havia  conseguido. Os instrumentos cantarolavam as primeiras notas, suas cicatrizes saíam pela boca do intérprete, o ciúmes tomava seu corpo cruel e vagarosamente, estava sendo traído pela sua própria obra, ali, com outro, na sua frente.

                     Aos poucos as palmas e os gritos tomam o lugar dos instrumentos, o outro tem seu nome entoado pela plateia e as lágrimas escorrem na face do senhor de sapato engraxado e chapéu que está se movendo para a saída.


*O título é retirado dessa música, de um de nossos maiores compositores.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu.

                 Passeando pela internet e fui acabar no blog da Cláudia Leitte (não me perguntem como, por favor) quando li um post dela se defendendo das milhões de críticas que recebeu por sem um show de axé no Rock in Rio.

                Será que só eu que acho que ela está certa?

               O Rock in Rio é uma marca, que tem um dono e que serve pra gerar lucro pra esse dono. E ninguém pode negar que o que o cara mais sabe é fazer dinheiro.



                   Ele contrata as atrações que acha que deve, coloca no palco em dias separados mais ou menos de acordo com o estilo, estipula um preço para cada um desses dias e as pessoas escolhem vale a pena trocar o tempo que ela trabalhou pra juntar aquele dinheiro pelos shows que o festival vende em determinado dia.

                   Ahhh, mas é ROCK in Rio e não pode ter axé! O Rock in Rio nunca se caracterizou por ser de rock. Então por que esse nome? Porque em 1985, ano da primeira edição, o rock era a moda, era o que dava dinheiro e depois disso a marca ficou tão forte que não vale mais a pena trocar o nome. Bandas como Queen, AC/DC, Iron Maden... Bandas que equivalem ao que Katy Perry, Rihanna ou ainda Shakira são para a música pop mundial hoje. O Rock era pop na época, hoje o pop é outra coisa.

                   Ainda na primeira edição houveram Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso (que ainda nem era muito conhecido), Ivan Lins e algumas outras atrações brasileiras que foram vaiadas, veja só você. É claro que eu prefiro muito mais Barão e Paralamas a Cláudia Leitte ou Ivete Sangalo, mas é preciso entender que eles representam a mesma coisa em épocas distintas perante o seu público. São os expoentes do estilo musical que mais fizeram sucesso em sua época. O mesmo padrão se repete em todo Rock in Rio, seja ele no Rio ou não.

                    É tão bonito falar "odeio axé" ou ainda "odeio sertanejo" em alguns ciclos sociais que essas pessoas acabam se sentindo superiores àquelas que gostam disso. A questão não é de superioridade, a questão é de preferência. O que te leva a crer que a música que você gosta é superior à do outro? Só porque a que você gosta é mais difícil de ser feita? Ou porque trás alguma crítica social? (Aliás, Dinho Ouro Preto dedicando "Que País é Esse?" pro Sarney me deu ânsia).

                     Claudia Leitte, Ivete Sangalo, Katy Perry, Shakira, AC/DC, Slipknot, a minha vó fazendo bolo, Chico, Caetano ou Villa Lobos, todos eles são bons no que se propõe a fazer. Pode até ser que o que um se propõe é mais difícil que o que o outro se propõe (e o bolo da minha vó com certeza é), mas eles têm um objetivo, cumprem ele muito bem, obrigado, e há pessoas que pagam para vê-los realizando seu trabalho. Não quer? Não pague, não vá, mas não encha o saco de quem quer gastar com isso!

                  Sinceramente, nem vejo muita diferença entre uma banda que toca uma meia dúzia de acordes, usa máscaras, tem uma voz grotesca cantando pra galera ficar se batendo na plateia e uma cantora que canta músicas com meia dúzia de acordes, usa máscaras, tem uma boa voz cantando pra galera ficar se debatendo na plateia.



                    Escreveu aqui um dos caras mais chatos pra música que eu conheço, que chega a pautar algumas de suas amizades pelo gosto musical, que não suporta ouvir sertanejo  e que acha que axé, só muito bêbado e com mais umas milhares de pessoas pulando e cantando junto (veja só você, o caso do rock in rio).

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Homem, 100% branco e heterossexual.

                    Já tinha terminado o post e vi esse vídeo no mural do Facebook de uma amiga em que o cara diz tudo o que eu quis dizer aqui, mas de um jeito muito melhor, então vai pra quem estiver com preguiça de ler o post:



                         Ontem a Assembleia Legislativa da cidade de São Paulo aprovou o dia do orgulho heterossexual. Outro dia vi um cara andando com uma camiseta 100% branco na rua. E todo 8 de março os homens reclamam de não haver o dia internacional dos homens, mas ter o das mulheres.

                         Aí você se pergunta: qual o problema?! Se tem o dia do orgulho GLBT (a sigla já mudou de novo? não sei...), tem a camiseta 100% negro e tem o dia internacional das mulheres, nada mais justo do que as contrapartidas. Mais justo porra nenhuma!

Quando um negro veste sua camiseta 100% negro, ele está dando um tapa na cara de nós brancos, ao dizer que apesar de toda a repressão e humilhação que impusemos a eles, ainda têm orgulho de serem negros! Têm orgulho de terem resistido bravamente à covardia histórica à qual submetemos eles.

                   Quanto cria-se o dia internacional da mulher, é para que haja um dia de reflexão sobre o machismo que domina o mundo e sobre o quanto nós, homens, as reprimimos durante os últimos séculos.

                   Quando cria-se o dia do orgulho gay, os gays dão um tapa na cara de nós heterossexuais, ao dizer que apesar de toda a repressão e humilhação que impusemos a eles, ainda têm orgulho de sua orientação sexual e defendem o direito da liberdade dessa mesma orientação sexual, seja qual for ela. Ou o fato de haver uma parada gay interfere na sua "masculinidade"?

                           Gays, negros, mulheres, índios, e mais uma série de minorias oprimidas por nós, brancos, homens e heterosexuais têm todo o direito de levantar sua bandeira e de mostrar a toda a sociedade que não aceitam essa opressão e que lutarão sim contra ela. Eles precisam se afirmar numa sociedade que os exclui e ignora.

                           Agora, o que ganhamos com o dia do orgulho heterosexual? Que orgulho é esse de ser da maioria opressora? Não precisamos de um dia para nos colocarmos para a sociedade, para mostrar que existimos ou para exigir direitos iguais se somos nós, homens, brancos e heterosexuais,quem decidimos esses direitos!

Atualização às 19h18:

Trecho retirado do projeto de lei aprovado: "conscientizar e estimular a população a resguardar a moral e os bons costumes" Ah bom, agora ta justificado...

domingo, 26 de junho de 2011

Poligamia

                       Quanto mais penso nesse tema, mais me impressiona a capacidade que temos de nos torturarmos com certos costumes ou regras construídas por nós mesmos em contextos históricos e culturais que não fazer qualquer sentido nos dias de hoje.

 

                      Estava no bar da minha mãe, e ali estava um homem, bebendo sua pinga e lamentando a traição que acabara de descobrir. Mas ali, naquela mesa de bar, eu já cansei de escutar centenas de casos de traição. E não só ali, em qualquer lugar para o qual cada um de nós vamos, existem casos de traições, desde um sexo casual, gerado por alguma situação incontrolável, até romances arriscados e duradouros.

                     Tenho convicção de que qualquer integrante de um casal que já passou pelo estágio da paixão, sente desejo sexual por outras pessoas, e esse desejo é algo extremamente aceitável na nossa sociedade, mas realizá-lo, é abominável. Os casais privam-se a todo momento de realizações que lhes dariam prazer por uma simples questão de posse. O contrato social do namoro, ou do casamento, pressupõe fidelidade em todas as suas formas de existir e tal fidelidade se confunde com esse sentimento de posse e de poder que é apenas um reflexo dos valores que carregamos na sociedade do consumo, ter propriedade sobre as escolhas de outra pessoa, apesar de soar absurdo, é algo extremamente natural para nós.

                    É natural que se procure um parceiro para dividir os problemas criar os filhos, viver o companheirismo da velhice, ter alguém para assistir aquele filminho nesse domingo chuvoso – de fato, hoje não seria má ideia - , mas isso não precisa implicar na privação sexual de qualquer uma das duas pessoas. Qual o problema se seu companheiro saiu com os amigos numa noite e a terminou trocando fluidos com alguém que não fosse você? O carinho por você é o mesmo, a confiança é a mesma, mas nosso sentimento de posse não nos permite pensar isso, afinal, ele é seu companheiro, não dos outros.

                   Não podemos confundir o sexo, algo natural de quase todos os seres vivos, com algo que foi socialmente construído por nós, como o namoro ou o casamento, coisas que não são de nossa natureza. A poligamia é também, evolutivamente, mais recomendável, e não falo da diminuição das mortes causadas por dores de corno, mas sim da eterna busca evolutiva pela variabilidade genética já que ao ter filhos com mais de uma pessoa, mais chances seus genes terão de se perpetuar. Não estou dizendo para que tenhamos filhos com qualquer um que quisermos transar, apenas dizendo que a necessidade de mais de um parceiro sexual é evolutivamente plausível.


                   A monogamia é uma das maiores torturas a que nos sujeitamos e, não, não estou dizendo que quando encontrar alguém que queira namorar, ficarei confortável, ou aceitarei, que essa pessoa faça sexo com outros, assim como qualquer outro que está imerso nas regras do jogo, mas isso claramente não me proíbe de questionar essas próprias regras.

                  Ah, e nenhum desses argumentos são capazes de justificar qualquer traição em um namoro ou casamento. Se você se sujeitou a alguma dessas relações, aceitou as regras impostas por ela e nada mais ético do que seguir as regras pré-acordadas.


 "Só vim aqui te avisar:
Não sou somente tua
Nem sob sol nem sob lua

Só vim aqui te lembrar:
Fração minha cochila no meio da rua
Te aguarda, sob lençol de nuvens, toda nua."

Poligamia, de Helena Zelic.

sábado, 4 de junho de 2011

Som Brasil I

Som Brasil é um programa apresentado na Globo com certa periodicidade em suas madrugadas. Existe desde 1981, com duas pausas de alguns anos nesses períodos. A última retomada do programa foi feita em 2007, num modelo totalmente reformulado que traz cantores desconhecidos do grande público cantando clássicos de compositores que fizeram história.



Tenho como um dos grandes passatempos na internet, ficar vendo vídeos musicais descobrindo novas caras e novas músicas, brasileiras em sua grande maioria. E uma ótima maneira de fazer isso, é passeando pelos inúmeros vídeos do Som Brasil pelo youtube, ou ainda pelo próprio site do programa que disponibiliza vários desses em ótima qualidade.

Nesse programa, descobri muitos cantores novos e músicas antigas, os arranjos das músicas são ótimos e a produção artística do programa impressiona. Com isso resolvi abrir a primeira série do blog! Cada post com um artista novo, interpretando músicas de compositores consagrados e também com uma música do trabalho solo desse cantor, e para começar:

Ana Canãs:


Bom, pra abrir a série, a minha preferida, Ana Cañas. Ela se apresentou no "Som Brasil Cazuza" em 27 de junho de 2008, cantando "O nosso amor a gente inventa", "Codinome Beija-Flor" e "Carente Profissional". Com uma voz aveludada, uma pegada rock'n'roll e uma puta alma nas músicas, me viciei por uma época. Com dois CDs lançados até aqui, um deles autoral, acabou virando um dos meus nomes preferidos da nova MPB.

Ana Cañas interpretando "Carente Profissional":




"Mandinga Não" do seu primeiro CD:




Ah se ela soubesse a chance que tem comigo...

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Excursão ao Zoo

                    Hoje fui acompanhar os alunos do colégio numa excursão ao Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MASP e é a primeira vez que visito um grande museu de arte (sim, eu sei, eu sei...). Obviamente adorei a visita e relatarei nos próximos dois parágrafos, duas passagens que me chamaram a atenção.

                      A começar pela chegada no museu, recebidos por um movimento que estava protestando contra a construção da Usina de Belo Monte. Como a maioria daqueles que já passaram pela Unicamp, estou bastante acostumado com esses protestos, gritos de ordem e tudo mais. O interessante ali foi ver a reação dos alunos. Oriundos em sua grande maioria da classe B campineira, olhavam para a movimentação com uma mistura de êxtase e receio, mantendo uma distância segura, observando, vez ou outra fazendo alguma piada. É exatamente a mesma reação de uma criança que vai pela primeira vez ao zoológico observar o leão. Leão que eles compreenderão melhor e com quem conviverão em alguns anos. Nesse tempo de espera no vão do MASP ainda surgiu no tio vestido de jamaicano, dreads e... petecas! Os alunos mais desenvoltos começaram conversar com ele e não demorou para que se formasse uma roda de todos eles em volta da figura. A sensação era de zoológico mais uma vez. Em meio a conselhos como “não usem drogas” e “Ricos e pobres precisam se misturar”, que os alunos ouviam como jamais ouviram qualquer frase minha na aula, começaram todos a cantar uma música, bater palmas e pular, juntos ao “jamaicano”. Foi a obra de arte mais bonita do dia!

                     Passada a agitação, entramos no museu e uma mulher de cabelos vermelhos, serena, com um tom de voz de quem sussurra deliciosamente num ouvido, logo prendeu a atenção de todos. Nos levou a uma escultura de uma deusa grega, a deusa da cura. Até aí tudo bem, tudo certo, até ela dizer que além da deusa, a estátua também era grega!! 2400 anos de história ali, na nossa frente, a meio metro! Simplesmente não podia mais prestar atenção naquela voz... Comecei a viajar sobre os lugares, as mãos, os terremotos, guerras e paz pelos quais já passaram aquela estátua. Quando foi feita, com seu equilíbrio perfeito, já representando o ideal de beleza que idolatramos hoje, Jesus Cristo ainda não tinha vindo à terra, sócrates, platão, arquimedes e companhia eram quem dominava! Aquela estátua deve ter conhecido um desses caras pessoalmente quando jovem. Passou pelos olhos de imperadores romanos, de papas, senhores feudais, chefes de estado, capitalistas, viu o mundo virar de ponta cabeça e agora estava ali, a meio metro! A sensação de zoológico retornara, mas quem estava observando o leão a uma distância segura, cheio de receio e curiosidade era eu. Devagar o sussurro no meu ouvido retornava e “... agora vocês podem passear pela exposição e olhar à vontade.” Os alunos se dispersaram, mas fiquei ali, apreciando aquela estátua um tanto trincada e remendada, como não poderia deixar de ser com uma representante da história da humanidade.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Por uma escola em meio período.




                            Já é discurso padrão de todos os setores da nossa sociedade que a prioridade de todos os governos deve ser a educação. Chega a irritar a hipocrisia escondida na facilidade do discurso. Gostaria de ver a reação desses mesmos setores da sociedade se o governo resolver tirar dinheiro dos financiamentos de automóveis que eles tanto adoram comprar para investir em educação.

                            Nesse discurso, é um ponto comum a defesa das escolas em período integral. Com ela as crianças teriam uma educação de melhor qualidade, seriam cidadãos melhores, teriam aulas de dança, teatro, expressão corporal e mais uma gama de atividades lindas e maravilhosas. Concordo que seria ótimo se todas as nossas crianças possuíssem acesso a todas essas atividades e mais uma infinidade de outras, mas ter acesso é completamente diferente de serem obrigadas a fazer.



                           O movimento nas casas legislativas é sempre no sentido de aumentar o número de horas na escola e também o conteúdo que deve ser trabalhado nela. Recentemente tivemos a inclusão do estudo de sociologia e filosofia, o espanhol está prestes a chegar e há discussões avançadas sobre a inclusão de noções de psicologia e de direito. Tivemos ainda, há cerca de uma semana, o senado federal aprovando um projeto de lei que aumenta em 10% número de aulas obrigatórias por dia letivo. Obviamente todas essas disciplinas são importantíssimas, mas os alunos simplesmente não aguentam mais!!! O conteúdo formal que eles precisam aprender é extenso, cansativo e, na maioria das vezes, sem relação alguma com as suas vidas. Não que o conteúdo deva ter essa relação, mas isso só torna as coisas ainda mais desinteressantes.

                           Acredito que o caminho a ser traçado deva ser o inverso, a diminuição do conteúdo. Só com isso conseguiremos ter uma escola de qualidade, na qual os alunos realmente aprenderão tudo aquilo o que se espera deles. Hoje, se ensina muito, mas aprende-se pouquíssimo e qualquer professor de escola pública ou particular, sabe disso. A porcentagem do conteúdo realmente compreendida pelos alunos chega a ser vergonhosa.



                           Outro problema da escola em período integral é a internação dos alunos nessa escola. Crianças precisam de liberdade, ter um período do dia em que não tem nada para fazer, brincar com os amigos, jogar vídeo-game ou ficar na internet, que seja. Elas precisam ter esse tempo para criar independência e responsabilidade sobre seus atos. Não é a vida delas que tem que estar dentro da escola, mas sim a escola que tem que estar dentro da 
 vida delas. Está acontecendo uma inversão de valores. Nossas crianças precisam de mais liberdade, de viver um pouco fora do mundo politicamente correto das escolas, do mundo esterilizado para o qual parece que estamos caminhando.

                           Os argumentos colocados acima, foram considerando que as escolas em tempo integral serão como dizem que serão, o que sabemos que é utópico demais. Provavelmente, ao invés de ter as seis ou sete aulas tradicionais que têm hoje, os alunos passarão a ter 10 aulas igualmente tradicionais de matemática, português, história, sociologia, direito, psicologia, etc. Ninguém aguentará isso! Esses alunos sairão da escola sem preparo nenhum para pegar um ônibus sozinho, afinal eles não terão tempo para isso se passarem o dia todo na escola.

                           O Brasil avançou muito em educação nas duas últimas décadas, conseguimos o que quase país nenhum do mundo possui, a universalização dos ensinos básicos e médios, e estamos em processo de universalização do ensino superior. O desafio que está posto agora, é a melhora da qualidade de ensino, e para isso é preciso primeiro acertarmos o que já temos, a nossa escola de meio período e universalizada e não ficarmos colocando cada vez mais horas de aula, afinal, as que temos já nos dão dor de cabeça suficiente.

sábado, 23 de abril de 2011

Salve Jorge!

Post com enorme possibilidades de muitos erros e confusões, quem perceber algum, daá um grito! :)

Uma das coisas que mais me interessam e fascinam são as religiões. Não gosto delas como instituições, mas ninguém pode negar a riqueza cultural que todas elas trazem, principalmente aqui no Brasil. Ao encarar as religiões como cultura popular, temos na nossa frente, um leque infinito de possibilidades. Os cantos, as imagens, as lendas (crenças), histórias que não caberiam numa vida.

Lavagem da Catedral de Campinas
No Brasil, país da diversidade, tudo se torna ainda mais interessante, principalmente quando olhamos para a fusão do cristianismo com as religiões de origem africanas, como o candomblé e a umbanda. Hoje, 23 de abril, houve a lavagem das escadarias da Catedral Metropolitana da Campinas. Lavagem da igreja por pessoas do candomblé. Conseguem enxergar a beleza disso num mundo em milhões se matam por causa de deus? Uma das coisas que estou devendo a mim mesmo, é conhecer melhor essas de origem afro, ir a algum terreiro, ver de perto os ritos, e celebrações. Já me recomendaram fortemente a não fazê-lo por ser forte demais, mas acho que a curiosidade será maior.



Hoje é dia de São Jorge, para os católicos, identificado como Oxossi no candomblé ou ainda com Ogum na umbanda. Abaixo duas músicas que ilustram bem essa maravilhosa mistura que temos entre as mais diversas religiões. O Primeiro vídeo é uma música de Jorge Bem, interpretada pelo Caetano, e a segunda interpretada pelo Zeca Pagodinho, na qual ele diz:

"Sim vou à igreja festejar meu protetor
E agradecer por eu ser mais um vencedor
Nas lutas nas batalhas
Sim vou ao terreiro pra bater o meu tambor"


Jorge da Capadócia:                                            

 





        Ogum:

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Transeunte.

De salto, como o de costume, comiam-na com os olhos por onde passava, na fronteira entre a vulgaridade e o mistério. Guardava consigo a sensualidade das deusas, a leveza de uma Vênus, mas que com o balançar dos braços escrevia poesia no ar, vai-vem, vai-vem, vai-vem... Os olhos de jaboticaba envolviam a mente dissolvendo a neblina que estava ali a pouco, seu cheiro embriagava, invadia as narinas como um batalhão impossível de ser freado, tomando todos os espaços, sem cerimônias. Andava firme, em minha direção, como se a cada passo, aquele salto precisasse esmagar algo em que pisava. Poderia dizer, tranquilamente, que seus cabelos pertenceram à Iracema em vidas passadas, tinha a cor dos olhos e laço nenhum poderia prendê-lo. Laço nenhum poderia prendê-la. Numa rápida, congelante e eterna troca de olhares, passou por mim e se foi como a última volta do redemuinho sumindo da pia até então cheia de esperanças. Que bom, vê-la todos os dias poderia ser perigoso demais.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Dimensões!

 Bom, faz tempo que não falo de Matemática por aqui, então lá vai!

 

Um dos assuntos mais intrigantes relacionados à matemática é, sem dúvida, o estudo das n dimensões de um espaço.

Mas o que significa uma dimensão? Existe a quarta dimensão? Somos realmente seres que vivem num espaço tridimensional?





A matemática possui uma área que dedica parte de seus esforços exatamente aos estudos dessa questão: a topologia.

Um projeto francês realizou um filme que trata as dimensões de um jeito bem matemático visando popularizar um pouco as teorias matemáticas sobre o estudo dessas dimensões.



Nos primeiros capítulos, encontramos um pouco de duas dimensões, passando pela cartografia e por artistas famosos. No decorrer do filme, vamos passeando pelas outras dimensões, até chegarmos, finalmente à quarta!



Essa é a "sombra" de um "sólido" de 4 dimensões!



Você sabia, por exemplo, que existem objetos de dimensão 1,5? Isso mesmo! Nem 1, nem 2, 1,5!

Essas e outras bizarrices podem ser entendidas nessa viagem de duas horas, que você pode encontrar gratuitamente e sem cometer crime algum aqui (via torrent), aqui (online), aqui (com o link direto) ou ainda aqui (comprando o DVD)!

Ah, e não se esqueçam da legenda!

Outra indicação sobre o assunto é a divertida animação "FlatLand". Abaixo, o Trailler:



Se alguém souber onde baixar, aceito a indicação :) Pra quem quiser comprar: http://www.flatlandthemovie.com/

Beijos!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Construindo José

"Construção" e "E agora, José?" sempre foram duas coisas que me encantaram demais! Primeiro o poema do Drummond. Um amigo do meu pai (José), deu um quadro com esse poema para ele. Ficava lá, pregado no corredor da casa. Sempre lia, e cada vez que lia, um pouco mais velho, ia entendendo a beleza daquelas palavras.



Já construção é daquelas coisas q a gente não presta muita atenção no começo. Descobri ela de verdade quando estava lendo sobre músicas com proparoxítonas e vi aquela coisa cheia de "métrica, rima e muita dor".

Indo ao post logo, resolvi juntar as duas coisas, verso a verso. Isso deve ter algum nome complicado que o professor Pasquale deve saber:

Construindo José

Como se fosse a última festa
Beijou sua mulher no apagar das luzes
Como se fosse único no meio do povo
A espinha esfriava a cada passo tímido.

José erguia-se em construção
Como você entre paredes sólidas
Um mágico sem nome
Zombando a cada lágrima
fazendo versos como se fosse sábado
Protestando pelo arroz com feijão.

José bebeu, dançou, gargalhou
Sem mulher, bêbado, no céu...
Papagueou um discurso,
um carinho flácido...
Agonizou sem beber
Fumou o tráfego
Cuspiu o último amor.

O beijo era como o dia que não veio
O bonde passou, como a perda do filho
Rir era como atravessar a rua bêbado
Utopia, como beber algo sólido
Acabaram-se as paredes mágicas...
Fugindo sempre do lógico
Cimento mofado, embotado,
José era príncipe!

GRITA!
Geme, chora, dorme, cansa,
Morre...




   

terça-feira, 5 de abril de 2011

Três definições para o amor

Bom, o que mais existe no mundo são músicas, filmes, poemas e tudo o mais sobre amor. Abaixo estão minhas três definições preferidas, uma de cada uma dessas "mídias", com honrarias para a última. E você, qual a sua?



Por Cordel:


Por Camões:

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?

E a minha preferida, por minduim:

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A solução é fumar os carros!

Quatro coisas inspiram o post de hoje: um poema, uma reportagem, uma música e um documentário.

O poema

Cota zero

Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?

Carlos Drummond de Andrade


A reportagem

Por trânsito e poluição, China faz sorteio para comprar carro ( http://twixar.com/ftsB3 )


A música




O post

A relação sobre a qual falarei aqui surgiu pela primeira vez quando estava num ônibus voltando do trabalho e levei nada menos do que 30 minutos para percorrer 3 quarteirões (Leia de novo o poema acima agora). Comecei a imaginar opções para resolver o problema, mas nada decente vinha à minha cabeça. Pedágio dentro das metrópoles? Não adianta e é extremamente elitista. Multa para quem andar sozinho no carro pode ser uma boa, mas impossível aplicar e ainda elitista, a lei muito provavelmente não pegaria. Seria preciso um enorme processo de conscientização para que as pessoas passem a usar menos os carros. Nessa mesma hora olhei para uma mulher fumando do lado de fora de um bar e a relação se tornou óbvia.


A primeira coisa que precisa ser dita é que Freud é um cara foda e seu sobrinho Edward Bernays ganhou muito dinheiro com isso. Bernays foi um dos criadores do marketing moderno e ele se utilizou da seguinte premissa levantada pelo seu tio: é tudo sobre sexo. Foi ele quem introduziu o sexo nas propagandas e com isso a revolucionou, desde as pin-ups (ahhh, as pin-ups) até o cigarro como símbolo de sexualidade. E é aí que entra a relação entre os 30 minutos para atravessar 3 quarteirões e a mulher fumando. O carro é o novo cigarro. Carros são diretamente ligados à sensualidade, basta dar uma olhada em umas propagandas. "Ah, são propagandas idiotas" Sim, tão idiotas quanto os galãs e as musas de Holywood fumando após o sexo nos filmes que ajudaram a alavancar as vendas do cigarro.

É muito interessante ver a inversão de valores que tivemos com o cigarro no passar dos anos. Há 4 décadas, era a coisa mais glamurosa do mundo, apresentadores de tv fumando ao vivo, artistas, grandes ícones do pop mundial. Hoje esse status todo ainda aparece só nos adolescentes querendo mostrar que são fodas e acham que fumar é uma ótima maneira de fazer isso. As estrelas evitam ao máximo fumar em público, as leis limitando o fumo são cada vez mais severas, as campanhas anti-tabagismo chegam a ser constragedoras. Fumar virou vergonhoso na maioria dos ambientes. Tenho toda a certeza que a longo prazo, o número de fumantes diminuirá drasticamente depois de tudo isso.

E no cigarro temos a lição de como começar a resolver grande problema das grandes cidades do mundo: o trânsito e a poluição causada por ele (a reportagem acima mostra o desespero da China quanto a isso). Já existem algumas campanhas tímidas para que as pessoas evitem o uso do carro, mas a força da indústria automobilística é enorme. Já temos algumas leis que limitam o uso do automóvel, como o rodízio em São Paulo, por exemplo. Mas, para mim, a questão só começará a ser resolvida quando começarem a pegar pesado, assim como nas campanhas anti-tabagismo. Usar o carro para ir trabalhar a alguns quilômetros de casa ou para ir até a padaria deve ser tão constragedor quanto acender um cigarro numa roda de não-fumantes. O raciocínio é simples: As campanhas para o consumo de carro e cigarro se baseiam praticamente nas mesmas coisas: sexo e poder. Apenas campanhas parecidas serão capazes de acabar com esses dois problemas.

Ah, só pra deixar claro: se eu tivesse dinheiro a primeira coisa que faria é comprar um carro. E obviamente iria até a padaria ou trabalhar a alguns quilômetros daqui com ele.



O documentário


terça-feira, 29 de março de 2011

Discurso de formatura

Finalmente o blog volta à ativa! Havia prometido não escrever nada nele até que meu discurso da formatura estivesse pronto e nada melhor para reestreiar como ele:



Discurso de formatura - Licenciatura em Matemática - Formandos 2010 - Unicamp





Boa noite senhores pais, formandos, colegas, amigos, funcionários,  professores e demais presentes. Para começar, gostaria de parabenizar os colegas graduados em licenciatura em matemática pela Universidade Estadual de Campinas por mais essa conquista! Quando fui escolhido para ser o orador dessa turma, logo fiz o que todo matemático que se preze deve fazer: fui até a definição.  Orador: aquele que ora. Orar: agradecer, pedir, realizar uma oração. E é isso o que irei fazer aqui. Como orador, irei orar, pedir, agradecer.

Agradeço, primeiramente aos nossos criadores, nossos deuses, nossos pais. Eles que nos apoiaram incondicionalmente nessa decisão de nos tornarmos matemáticos ou professores de matemática mesmo que esse não tivesse sido exatamente o sonho deles.

Minha mãe me disse um dia que os pais não criam os filhos para casar, ou para sair de casa. Eles criam os filhos com o sonho de vê-los se formando. Pais, mães, parabéns! Vocês têm um filho professor!  Professor: aquele que professa. Professar: levar a profecia, levar a verdade. Bem, colegas professores, essa definição talvez seja melhor não levarmos tão ao pé da letra assim. Nossa profissão não é bem professar. Está mais para... formar pessoas. Formaremos os engenheiros, os médicos, os professores de um país que quer crescer 20% nos próximos 4 anos, mas não tem mão-de-obra pra isso. Temos o dever de lutar por uma educação de qualidade para todos, sermos éticos, e mais o mundo de coisas que se espera de um professor. Existe algo mais difícil nesse mundo? Tão difícil que ninguém tem a fórmula, mas não tem problema, que graça teria?

Assim como não teria tido graça alguma a nossa graduação sem os tropeços, as dificuldades, as madrugadas estudando. Lembro até hoje da nossa primeira aula de verdade: Geometria Euclidiana Plana – MA520. Ninguém entendia exatamente nada do que estava acontecendo e 90% da turma trancou a disciplina. Era o primeiro indício de ter o carimbo do melhor curso de matemática do Brasil não seria fácil. Nenhum dos formandos de licenciatura em matemática aqui está se formando em fase. Salvas as agradáveis exceções, estamos todos atrasados, pelo menos um semestre.

É engraçado como, pelo retrovisor, vemos tudo ao contrário. Posso afirmar a todos aqui presentes que não nos arrependemos de nenhuma de nossas DPs. Não nos arrependemos porque sabemos que cada uma delas tem um ótimo motivo. Cada DP nos valeu experiências que sala de aula alguma nos daria. Seja tentando solucionar os problemas do mundo em debates de greve ou no centro acadêmico, seja trabalhando, seja matando aula para jogar truco com ou amigos, ou ainda para ficar no café do IMECC olhando praquelas coisas estranhas na lousa. Esse é um apelo que tenho a fazer aos professores aqui presentes. Promovam os espaços de convivência estudantil. Vocês não têm ideia do quanto aprendemos e crescemos neles. Festas no campus, movimentos estudantis, sinucas, espaços essenciais e imprescindíveis na formação dos alunos dessa universidade.

Lembro até hoje de uma conversa que tive com a Camila num intervalo dos estudos para o exame de cálculo 3. A dimensão que as amizades iam atingindo, a maneira como nos deram força pra segurar aquela crise do segundo ano que quase todo mundo tem. Tínhamos em quem nos apoiar nos momentos mais difíceis, alguém em quem chorar as pitangas, falar mal de algum professor. A estranha mistura de euforia e tristeza quando passamos num exame, mas o amigo não teve a mesma sorte. Não há como fugir do clichê, os amigos foram a parte mais importante desses 4, 5, 6, 7 anos. Sejam aqueles que fizemos no curso, sejam aqueles que conhecemos fora da sala de aula, pessoas que, com certeza, já têm marcas permanentes em cada um de nós. Infelizmente, quando vamos para frente, algumas coisas ficam para trás. O grande problema é que ainda não sabemos quais serão elas, mas Drummond escreveu certa vez que “as coisas lindas, muito mais que findas, essas ficarão”.

Coisas lindas, dignas de memória! Peço licença aos colegas formandos de outros anos para lembrar alguns momentos da licenciatura 06, minha turma. A começar pelo trote. O meu foi sacanagem, lembram da Bete? E o que seriam das aulas de EL sem o luizim metralhando suas piadas e comentários sensacionais? Ah, Também temos um time de futebol!! A H’! O que, naturalmente, não quer dizer que tenhamos corrido atrás de uma bola, mas a camiseta esta lá, bonitinha, com uma galinha que a Camila não sabe diferenciar muito bem de um Peru! Tinham também o Igor e goiano morando nas salas dos professores no primeiro ano, competindo com o Danilo pra ver quem puxava mais saco. Todos lembramos e comentamos aquela aula sobre fractais na qual o Douglas falou por duas horas, nos dando um gostinho do grande matemático que, com certeza, será.

Por fim, gostaria de agradecer a todos os presentes e fazer um pedido a todos os amigos formandos. Vá você ser professor, vá trabalhar em qualquer outro ramo, vá seguir seus estudos em matemática pura ou aplicada, não importa. Faça tudo a que se propôs da melhor maneira que pode, faça sempre como se estivesse alguém olhando, alguém julgando. Que seus olhos brilhem a cada decisão, que as veias pulsem a cada momento, tenham gana, tenham raça, tenham força em tudo o que decidirem fazer, tenham em vocês todos os sonhos do mundo.


Obrigado pela atenção.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Post no Blog

To com preguiça de escrever, então vão só as duas músicas mesmo!






domingo, 13 de fevereiro de 2011

Meu querido diário


Sempre ouvi dizer que um blog é um diário eletrônico, então para fazer juz à definição, o primeiro post da série "Meu querido diário":

No último final de semana assisti novamente ao filme "Clube da Luta" e, como sempre, ele me levou a um incômodo questionamento sobre alguns princípios e valores que procuro carregar. É um filme que me perturba!

Algo que vem martelando na minha cabeça nos últimos anos como um martelo num prego que insiste em não terminar seu destino, é um dos temas centrais do filme: "O QUE VOCÊ QUER???" Não quero algo em que seja fácil estar no topo, num lugar onde a evolução e a busca por novos desafios e conhecimentos quase não seja mais possível. Embicar a vida nessa direção é suicídio! Começar a escalada de uma montanha ainda maior é muito mais tentador, mas, por outro lado, desprezar aquele morrinho, tão ignorado, tão carente e do qual gosto tanto é um pulo grande demais.

Quando você se dá por si, as coisas que aconteceriam, já aconteceram, com 17 anos você já está na universidade, com 18 exercendo sua profissão, e com 22 você tem a impressão de estar tão próximo do topo do morrinho que torce para que alguma falha sísmica resolva fazê-lo crescer um tanto. Mas o morro é tão seguro... os outros precisam de você nele, para que se aventurar numa montanha inóspita onde você sabe que não será requisitado e, muito menos, conseguirá começar a subida facilmente? No morrinho, uma grande vida é quase certa, já no topo da montanha, uma grande obra talvez te aguarde! "Uma grande vida ou uma grande obra?" (frase que também perturba o senhor Billyshears em um dos blogs ao lado).



Pode ser que seja necessário alguém enfiar uma arma na sua cabeça para que comece a preparar sua subida na montanha, abandone o tão confortável morrinho e parta para coisas maiores, assim como feito com o nosso amigo no trecho do filme acima. Quem sabe uma tirolesa? Que saia do topo do morrinho e te deixe pular o árduo início da montanha? Com ela você corre o risco de se esborrachar nas pedras lá do outro lado. Ou, talvez seja melhor, primeiro se preocupar com o topo do morrinho para, depois que estiver lá, pensar em encarar aquela montanha! Não não, se fizer isso pode não sobrar tempo o suficiente para o topo da montanha, o morrinho pode ficar perigosamente confortável depois de vencido. É, melhor não... Já sei! Um teleférico! Isso, isso mesmo, é claro! Um que me leve, levemente, de um à outra sem o risco da queda! Hum... Não tem teleférico entre elas... Melhor começar a construir os trilhos logo então... Com licença, antes que seja tarde.