domingo, 30 de janeiro de 2011

Uma noite em 67

Já falei de política, livros, educação, tirinhas, matemática e até de poesia. Já passou da hora de falar de música!

Às vezes fico divagando sobre qual momento da história eu escolheria para presenciar, caso tivesse a chance de uma única escolha (Já pensou qual seria o seu?). Ainda não me decidi sobre, mas um momento (uns, na verdade) que sempre vem à minha cabeça são os grandes festivais da Música Popular Brasileira. Não conheço a nossa música nem perto do que gostaria, mas me interesso muito por sua história e por suas histórias. Esses festivais marcaram quase tudo o que o Brasil produziu de cultura no fim do século XX, e não só na música.

Já a algum tempo, quero assistir a um documentário chamado "Uma noite em 67" que conta a história de uma das noites do festival ocorrido naquele ano, mas ele não passou em nenhuma sala de cinema aqui de Campinas (pelo menos não que eu saiba). Aliás, o número de filmes, principalmente nacionais, que quero assistir e não entram em cartaz aqui é incrível!

Mas, voltando ao filme, gosto bastante de ficar passeando pela internet procurando vídeos e filmes sobre essa época da história da nossa música. A Bossa Nova, a Jovem Guarda, o Tropicalismo, Tom, Chico, Roberto, Caetano, Gil, o outro Tom... São temas de infinitos documentários e entrevistas que acabam se perdendo nesse emaranhado de mais do mesmo, mas "Uma noite em 67" se destaca. É uma hora e meia no formato tradicional de um documentário, mas talvez por contar a história de apenas uma noite ele tenha se tornado menos genérico e mais intenso que os outros.

Uma noite que marcou a história da nossa música com Ponteio (Edu Lobo e Capinam), Domingo no Parque (Gilberto Gil), Roda Viva (Chico Buarque) e Alegria, Alegria (Caetano Veloso) e 1º, 2º, 3º e 4º lugares, respectivamente! Para mim o ranking seria Domingo no Parque, Roda Viva, Alegria, Alegria e Ponteio, com sérias propensões a trocar de lugar "Roda Viva" e "Alegria, Alegria"(coloque o seu ranking nos comentários!). E sem esquecer do primeiro momento Rock'n'roll da nossa música: não, não são o Caetano e o Gil revolucionado e colocando guitarras elétricas nas músicas, mas sim o Sérgio Ricado jogando o violão na plateia depois de ter sido vaiado!

Enfim, um documentário que vale muito a pena e que pode ser encontrado aqui em ótima qualidade!

Beijos!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Nossos ouros e o pré-sal

                    Recentemente a Petrobrás encontrou aquela que é considerada uma das maiores reservas de petróleo recentemente descobertas no mundo. Estou lendo um (famoso) livro chamado “As veias abertas da América Latina” de Eduardo Galeano, que trata da exploração das riquezas humanas e materiais do nosso continente desde a chegada dos espanhóis nessas terras e comecei a me questionar de quanto valerá para o povo brasileiro essa importante descoberta em nosso território. Por ser um post que trata de um assunto que não domino, imprecisões históricas deverão aparecer e correções são bem-vindas.
 
                    Desde a chegada dos portugueses no Brasil, temos sido vítimas de algumas “monoculturas” que, de riqueza, não nos trouxeram nada. No início, a exploração era a do pau-brasil (já que os portugueses não haviam encontrado metais preciosos nessas terras), também conhecido como o ouro vermelho. Era a primeira vez, mesmo que de maneira tímida, que essas terras sentiam o gosto da exploração desenfreada. E que heranças temos dessa exploração? O início do genocídio daqueles povos que aqui viviam antes da chegada dos portugueses e também a abertura das porteiras para o desmatamento. De riqueza para nós, nada.
                    Logo depois do pau-brasil, veio o cultivo do ouro branco, ou ainda, da cana-de-açúcar. O açúcar era uma especiaria valorizadíssima na Europa e para tê-la precisavam ir até as Índias. Encontraram nos férteis solos do nordeste brasileiro e de alguns países da América Central uma fonte que não parava de jorrar dinheiro. Dividiu-se o Brasil em 12 faixas de terras (as capitanias) cada uma com seu senhor e elas passaram a ter toda sua abundância roubada por essa gulosa planta. E o que o nosso povo ganhou com toda essa riqueza? A transformação de um solo riquíssimo em uma savana causadora de fome para milhões de brasileiros que nela hoje vivem. Isso sem contar nos milhões de escravos e índios mortos nessas lavouras. O lucro foi todo para França, Inglaterra, Holanda, Portugal... Todos acumulando riquezas vindas aqui, das nossas terras.

                  Com o início da monocultura da cana-de-açúcar em países centro-americanos e mais próximos da Europa e a descoberta das minas de Minas, o negócio da cana não era mais interessante. O centro político-econômico do país migrou para a região sudeste e Minas Gerais começa a ser desnuda às custas de mais alguns milhões de vidas dos escravos que raramente suportavam mais de sete anos expostos aos venenos indispensáveis para a extração de ouro e de outros metais. E, mais uma vez, o que ganhamos com isso? Centenas de igrejas banhadas de ouro em algumas cidades que mais tarde foram naturalmente saqueadas por aquele povo que foi deixado à própria sorte quando aquelas tetas secaram. O ouro de Minas Gerais e das outras partes da América Latina serviu para o caixa que a Inglaterra e outros europeus precisavam para dar início à revolução industrial, que mais tarde desencadeou em novas explorações do nosso povo. É a América Latina financiando a exploração da América Latina.
 
                     Chega a vez do ouro verde e, mais uma vez, da economia brasileira estar focada em um único produto, sendo agora a vez do café. A mão-de-obra não era mais a escrava, mas ainda cuidava de escravizar imigrantes que, em troca de comida, trabalhavam em troca do direito de ter fome e não morrer por causa dela.  Não é difícil dizer o que os brasileiros ganharam com toda essa nossa riqueza que ia para solos europeus e para as mãos de alguns poucos senhores de engenho. Isso por que já éramos um país “independente” de Portugal, mas que sempre foi subserviente aos interesses daquele continente. 
 
                     Com o crash de 1929 o café ficou mais barato que água da chuva no Amazonas causando, mais uma vez, a fome e a miséria naqueles milhões que viviam em torno de tal produção. Finalmente o Brasil iniciou seu processo de industrialização com os barões do café investindo aquilo que lhes na indústria manufatureira.  Vieram então as ditaduras apoiadas pelos Estados Unidos e a campanha “O petróleo é nosso!”. A grande riqueza do mundo não era mais a madeira, a cana, o ouro ou o café. O petróleo mandava no mundo.

                   Agora que vislumbramos uma data para o fim do ouro negro no planeta e ainda não temos nem ideia de como viver sem ele, o Brasil encontrou uma das maiores reservas atuais de petróleo. O cavalo está passando novamente na nossa frente, seladinho, seladinho. Nos resta torcer para que esse cavalo não sirva novamente para levar desenvolvimento e prosperidade aos exploradores de sempre. Desenvolvimento e prosperidade que são sempre simétricos à exploração e à pobreza daqueles que são os verdadeiros proprietários dessas riquezas.

                   Mesmo em países “resistentes” ao sistema econômico no qual o mundo funciona, sofrem com o aproveitamento de poucos sobre a riqueza do ouro negro, basta darmos uma olhada para os vizinhos Venezuela e Bolívia e o estado em que vivem suas populações, apesar da abundância de combustíveis fósseis daqueles países, que, assim como o Brasil, tiveram seus metais e vidas saqueados pelos colonizadores de alguns séculos.

                  Fica o apelo para que a descoberta do ouro negro em nossas terras não tenha as mesmas consequências que tiveram as descobertas do vermelho, do branco, do amarelo e do verde.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

domingo, 9 de janeiro de 2011

A história do número 1 - History Channel

Esse é um post, digamos, reciclado. Coloquei ele no blog das exatas da Cooperativa do Saber e estou colocando aqui novamente.

Abaixo estão os links de uma série da "History Channel" chamada "A história do número 1". É um passeio bastante divertido e curioso pela história da matemática!

Aqui vocês podem encontrar as partes 1, 2, 3, 4, 5 e 6.

Aí vai a parte 1:

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O fim da Liga das Senhoras Católicas

E vai chegando ao fim uma república que, com certeza, foi algo incrível para algumas dezenas de pessoas. De vez em quando a vida nos chama e fala: "É filhão, já aprendeu bastante coisas aí, ta na hora de partir pra próxima".

E em homenagem à liga, um poema feito pelo meu irmão e pelo Juanito de Santa Fé (dois ex-moradores) numa lousa que tenho na sala. Ele não faz sentido algum, mas me soa como um retrato perfeito do que foi esse ano e meio:



Caracol Psicodélico

Sou o caracol do cano
tomo café da manhã com a
sua b(p)orra
Sinto pena pelo seu tamanho, espio
por cada torneira que chora por ser
fechada.

Com calor danço no chuveiro e
acaricio o que seu namorado ainda não
pode, e mergulho no ralo até meu
quarto para jogar playstation e comer
uma macarronada de
cabelo quente. Mas
neste sábado de manhã
não percebi o que
você estava fazendo
com essa
mangueira de pressão
filho da puta.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Alguns livros



Há alguns meses resolvi que precisaria urgentemente voltar a ler. Colocarei aqui um pouquinho do que achei dos livros que li de lá pra cá.



O último teorema de Fermat (Simon Singh): um livro sensacional que passeia por toda a história da matemática de modo muito suave, sempre tendo como foco um dos mais famosos problemas da história da matemática: x^n = y^n + z^n não possui solução inteira para n maior que 2. Altamente recomendável para quem se interessa por história da matemática e não quer ficar quebrando a cabeça fazendo um monte de contas.



Malvados (André Dhamer): Uma compilação de várias tirinhas publicadas no site www.malvados.com.br. Tirinhas que abordam essencialmente política e conflitos humanos de maneira extremamente ácida e irônica. Pra quem não conhece e gosta de tirinhas, é um prato cheio!


O andar do bêbado (Leonard Mlodinow): um livro que fala sobre como a probabilidade está presente em nossas vidas e mostrando vários casos curiosos em que ela pode ser utilizada. Tem potencial para ser muito melhor, é raso demais.



A janela de Euclides (Leonard Mlodinow): Mais um livro de história da matemática, dessa vez passeando pela geometria, começando dos babilônicos e terminando nas últimas teorias da física sobre a natureza do universo. O melhor livro de divulgação científica que já li e está ao alcance de todos, não é preciso ter feito uma graduação em matemática para entendê-lo.

O evangelho segundo Jesus Cristo (José Saramago): o melhor livro que já li, com certeza! Causador de grande polêmica entre o Saramago e a igreja católica, é um livro de leitura um tanto árdua, mas deliciosa. A narração narra toda a vida de Jesus, com algumas passagens bem diferentes daquelas às quais estamos acostumados.

Leite derramado (Chico Buarque): estava com receio de ler um livro do Chico. Pra mim ele é um daqueles caras que, se fez algo de ruim, é melhor não ficar sabendo. Mais uma vez fui surpreendido por ele, um livro muito original e de leitura empolgante, apesar de não haver uma trama pela qual fica se esperando o final. É pequeno e fácil de ler. Recomendo!


A vida, o universo e tudo mais (Douglas Adams): O terceiro livro da trilogia de 5 do "Guia do mochileiro das galáxias". Leitura obrigatória pra qualquer um que se consideram um pouco nerd. Com um humor sarcástico é muito engraçado e ridiculariza várias situações do nosso cotidiano.


Veias abertas da América Latina (Eduardo Galeano): é o próximo ;)

Beijos!

sábado, 1 de janeiro de 2011

"Só existirá ensino de qualidade se o professor e a professora forem tratados como as verdadeiras autoridades da educação"

2 meses e meio depois, aqui vamos nós de novo, espero atualizar com mais frequência daqui em diante.


Hoje, primeiro de Janeiro de 2011 a República Federativa do Brasil tem uma nova presidenta. Com a quase impossível missão de governar o país após a saída de um presidente-mito, as comparações serão inevitáveis e para ter uma avaliação positiva Dilma terá que fazer um governo muito melhor que o de Lula.

Durante seu discurso de posse no plenário da câmara, Dilma citou a frase que da título a esse post. É a primeira vez que vejo alguém que ocupa um cargo executivo no Brasil falar dos professores com tanta veemência. É claro que, como professor que sou (agora formado ^^) gostei bastante da colocação e espero que nesses 4 anos a educação seja a prioridade número de um governo que tem como principal desafio preparar um povo capaz de sustentar as demandas tecnológicas e intelectuais de um país desenvolvido.

É sempre bom lembrar aqui a figura do ex-senador Cristóvam Buarque que quando candidato à presidência da república nas eleições de 2006 , levantou a bandeira da educação durante toda a campanha, tornando-a prioridade (ao menos nos discursos) de todo político brasileiro.

Um passo importante para a educação brasileira foi a manutenção de Fernando Haddad como ministro da educação. Desde que assumiu o cargo no governo Lula em 2005 vem realizando vários esforços sem estardalhaços para que, a médio e longo prazo, tenhamos uma educação razoável em nosso país. Um exemplo que vejo com muitos bons olhos é a avaliação nacional dos professores que deverá ter sua primeira edição já no ano que vem. É uma pena que o governo federal tenha tão poucos meios de atingir a educação básica com políticas diretas.

Agora, é preciso, o quanto antes, tocarmos na questão central da nossa educação: não podemos continuar com esse modelo de escola e de aulas de um século atrás quando o mundo passou por transformações inimagináveis. Ao que me parece as únicas coisas que não sofreram praticamente nenhuma transformação nas últimas décadas foi a estrutura escolar e as juntas militares (eles ainda usam máquina de escrever lá!). Como queremos uma educação de qualidade se hoje a escola se tornou algo isolado do mundo?

Uma das minhas experiências mais interessantes esse ano foi seguir alunos no twitter, facebook, orkut e etc. Algo que gritou aos meus olhos, foi a ausência de comentários sobre a vida escolar. Como pode uma pessoa passar quase 1/3 de todos os seus dias dentro da escola e não levar o que acontece ali para os meios pelos quais se comunicam? Esse é o principal sintoma que nos mostra o quão falida está essa instituição essencial para a vida da nação.

Não basta apenas investir em educação e torná-la prioridade. Além disso, é preciso pensar numa revolução do modelo escolar. Não me pergunte como fazer isso, mas o começo óbvio é o investimento na formação de professores. Acabo de formar naquele que é considerado o melhor curso de licenciatura em matemática do Brasil e, sinceramente, não chego perto de considerá-lo um bom curso.

O primeiro passo é a mobilização das próprias universidades que tratam suas licenciaturas como cursos secundários em detrimento dos cursos valorizados pelos grandes investidores e pelo capital. Primeiro, ao escolher ser professor devemos escolher ser PROFESSOR e não escolher fazer matemática, história, geografia ou letras. Uma vez tomada a decisão de se tornar professor, o aluno entraria na universidade para um núcleo comum, onde por três anos aprenderia a ser professor. Entre suas matérias, figurariam itens de cultura geral, pedagogia, psicologia, política, língua portuguesa, língua estrangeira, matemática básica e aquilo mais que puder ser julgado conhecimento imprescindível para um professor. Passados esses três anos, o aluno escolhe sobre qual disciplina deseja fazer seus últimos dois anos de graduação.

Com essa formação mais completa e generalista, cada novo professor teria enormes condições de pensar em alternativas para o atual modelo de educação, que atraia o interesse dos jovens e crianças, fugindo desse nosso modelo falido que utiliza o ensino para o vestibular como uma de suas grandes amuletas.

A formação de qualidade é o primeiro passo para essa lenta revolução que deve levar décadas para ocorrer, mas declara-se de extrema urgência. Espero que esse seja um dos grandes eixos da nossa presidenta em sua política educacional.




Beijos!