terça-feira, 29 de março de 2011

Discurso de formatura

Finalmente o blog volta à ativa! Havia prometido não escrever nada nele até que meu discurso da formatura estivesse pronto e nada melhor para reestreiar como ele:



Discurso de formatura - Licenciatura em Matemática - Formandos 2010 - Unicamp





Boa noite senhores pais, formandos, colegas, amigos, funcionários,  professores e demais presentes. Para começar, gostaria de parabenizar os colegas graduados em licenciatura em matemática pela Universidade Estadual de Campinas por mais essa conquista! Quando fui escolhido para ser o orador dessa turma, logo fiz o que todo matemático que se preze deve fazer: fui até a definição.  Orador: aquele que ora. Orar: agradecer, pedir, realizar uma oração. E é isso o que irei fazer aqui. Como orador, irei orar, pedir, agradecer.

Agradeço, primeiramente aos nossos criadores, nossos deuses, nossos pais. Eles que nos apoiaram incondicionalmente nessa decisão de nos tornarmos matemáticos ou professores de matemática mesmo que esse não tivesse sido exatamente o sonho deles.

Minha mãe me disse um dia que os pais não criam os filhos para casar, ou para sair de casa. Eles criam os filhos com o sonho de vê-los se formando. Pais, mães, parabéns! Vocês têm um filho professor!  Professor: aquele que professa. Professar: levar a profecia, levar a verdade. Bem, colegas professores, essa definição talvez seja melhor não levarmos tão ao pé da letra assim. Nossa profissão não é bem professar. Está mais para... formar pessoas. Formaremos os engenheiros, os médicos, os professores de um país que quer crescer 20% nos próximos 4 anos, mas não tem mão-de-obra pra isso. Temos o dever de lutar por uma educação de qualidade para todos, sermos éticos, e mais o mundo de coisas que se espera de um professor. Existe algo mais difícil nesse mundo? Tão difícil que ninguém tem a fórmula, mas não tem problema, que graça teria?

Assim como não teria tido graça alguma a nossa graduação sem os tropeços, as dificuldades, as madrugadas estudando. Lembro até hoje da nossa primeira aula de verdade: Geometria Euclidiana Plana – MA520. Ninguém entendia exatamente nada do que estava acontecendo e 90% da turma trancou a disciplina. Era o primeiro indício de ter o carimbo do melhor curso de matemática do Brasil não seria fácil. Nenhum dos formandos de licenciatura em matemática aqui está se formando em fase. Salvas as agradáveis exceções, estamos todos atrasados, pelo menos um semestre.

É engraçado como, pelo retrovisor, vemos tudo ao contrário. Posso afirmar a todos aqui presentes que não nos arrependemos de nenhuma de nossas DPs. Não nos arrependemos porque sabemos que cada uma delas tem um ótimo motivo. Cada DP nos valeu experiências que sala de aula alguma nos daria. Seja tentando solucionar os problemas do mundo em debates de greve ou no centro acadêmico, seja trabalhando, seja matando aula para jogar truco com ou amigos, ou ainda para ficar no café do IMECC olhando praquelas coisas estranhas na lousa. Esse é um apelo que tenho a fazer aos professores aqui presentes. Promovam os espaços de convivência estudantil. Vocês não têm ideia do quanto aprendemos e crescemos neles. Festas no campus, movimentos estudantis, sinucas, espaços essenciais e imprescindíveis na formação dos alunos dessa universidade.

Lembro até hoje de uma conversa que tive com a Camila num intervalo dos estudos para o exame de cálculo 3. A dimensão que as amizades iam atingindo, a maneira como nos deram força pra segurar aquela crise do segundo ano que quase todo mundo tem. Tínhamos em quem nos apoiar nos momentos mais difíceis, alguém em quem chorar as pitangas, falar mal de algum professor. A estranha mistura de euforia e tristeza quando passamos num exame, mas o amigo não teve a mesma sorte. Não há como fugir do clichê, os amigos foram a parte mais importante desses 4, 5, 6, 7 anos. Sejam aqueles que fizemos no curso, sejam aqueles que conhecemos fora da sala de aula, pessoas que, com certeza, já têm marcas permanentes em cada um de nós. Infelizmente, quando vamos para frente, algumas coisas ficam para trás. O grande problema é que ainda não sabemos quais serão elas, mas Drummond escreveu certa vez que “as coisas lindas, muito mais que findas, essas ficarão”.

Coisas lindas, dignas de memória! Peço licença aos colegas formandos de outros anos para lembrar alguns momentos da licenciatura 06, minha turma. A começar pelo trote. O meu foi sacanagem, lembram da Bete? E o que seriam das aulas de EL sem o luizim metralhando suas piadas e comentários sensacionais? Ah, Também temos um time de futebol!! A H’! O que, naturalmente, não quer dizer que tenhamos corrido atrás de uma bola, mas a camiseta esta lá, bonitinha, com uma galinha que a Camila não sabe diferenciar muito bem de um Peru! Tinham também o Igor e goiano morando nas salas dos professores no primeiro ano, competindo com o Danilo pra ver quem puxava mais saco. Todos lembramos e comentamos aquela aula sobre fractais na qual o Douglas falou por duas horas, nos dando um gostinho do grande matemático que, com certeza, será.

Por fim, gostaria de agradecer a todos os presentes e fazer um pedido a todos os amigos formandos. Vá você ser professor, vá trabalhar em qualquer outro ramo, vá seguir seus estudos em matemática pura ou aplicada, não importa. Faça tudo a que se propôs da melhor maneira que pode, faça sempre como se estivesse alguém olhando, alguém julgando. Que seus olhos brilhem a cada decisão, que as veias pulsem a cada momento, tenham gana, tenham raça, tenham força em tudo o que decidirem fazer, tenham em vocês todos os sonhos do mundo.


Obrigado pela atenção.