sexta-feira, 20 de maio de 2011

Excursão ao Zoo

                    Hoje fui acompanhar os alunos do colégio numa excursão ao Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MASP e é a primeira vez que visito um grande museu de arte (sim, eu sei, eu sei...). Obviamente adorei a visita e relatarei nos próximos dois parágrafos, duas passagens que me chamaram a atenção.

                      A começar pela chegada no museu, recebidos por um movimento que estava protestando contra a construção da Usina de Belo Monte. Como a maioria daqueles que já passaram pela Unicamp, estou bastante acostumado com esses protestos, gritos de ordem e tudo mais. O interessante ali foi ver a reação dos alunos. Oriundos em sua grande maioria da classe B campineira, olhavam para a movimentação com uma mistura de êxtase e receio, mantendo uma distância segura, observando, vez ou outra fazendo alguma piada. É exatamente a mesma reação de uma criança que vai pela primeira vez ao zoológico observar o leão. Leão que eles compreenderão melhor e com quem conviverão em alguns anos. Nesse tempo de espera no vão do MASP ainda surgiu no tio vestido de jamaicano, dreads e... petecas! Os alunos mais desenvoltos começaram conversar com ele e não demorou para que se formasse uma roda de todos eles em volta da figura. A sensação era de zoológico mais uma vez. Em meio a conselhos como “não usem drogas” e “Ricos e pobres precisam se misturar”, que os alunos ouviam como jamais ouviram qualquer frase minha na aula, começaram todos a cantar uma música, bater palmas e pular, juntos ao “jamaicano”. Foi a obra de arte mais bonita do dia!

                     Passada a agitação, entramos no museu e uma mulher de cabelos vermelhos, serena, com um tom de voz de quem sussurra deliciosamente num ouvido, logo prendeu a atenção de todos. Nos levou a uma escultura de uma deusa grega, a deusa da cura. Até aí tudo bem, tudo certo, até ela dizer que além da deusa, a estátua também era grega!! 2400 anos de história ali, na nossa frente, a meio metro! Simplesmente não podia mais prestar atenção naquela voz... Comecei a viajar sobre os lugares, as mãos, os terremotos, guerras e paz pelos quais já passaram aquela estátua. Quando foi feita, com seu equilíbrio perfeito, já representando o ideal de beleza que idolatramos hoje, Jesus Cristo ainda não tinha vindo à terra, sócrates, platão, arquimedes e companhia eram quem dominava! Aquela estátua deve ter conhecido um desses caras pessoalmente quando jovem. Passou pelos olhos de imperadores romanos, de papas, senhores feudais, chefes de estado, capitalistas, viu o mundo virar de ponta cabeça e agora estava ali, a meio metro! A sensação de zoológico retornara, mas quem estava observando o leão a uma distância segura, cheio de receio e curiosidade era eu. Devagar o sussurro no meu ouvido retornava e “... agora vocês podem passear pela exposição e olhar à vontade.” Os alunos se dispersaram, mas fiquei ali, apreciando aquela estátua um tanto trincada e remendada, como não poderia deixar de ser com uma representante da história da humanidade.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Por uma escola em meio período.




                            Já é discurso padrão de todos os setores da nossa sociedade que a prioridade de todos os governos deve ser a educação. Chega a irritar a hipocrisia escondida na facilidade do discurso. Gostaria de ver a reação desses mesmos setores da sociedade se o governo resolver tirar dinheiro dos financiamentos de automóveis que eles tanto adoram comprar para investir em educação.

                            Nesse discurso, é um ponto comum a defesa das escolas em período integral. Com ela as crianças teriam uma educação de melhor qualidade, seriam cidadãos melhores, teriam aulas de dança, teatro, expressão corporal e mais uma gama de atividades lindas e maravilhosas. Concordo que seria ótimo se todas as nossas crianças possuíssem acesso a todas essas atividades e mais uma infinidade de outras, mas ter acesso é completamente diferente de serem obrigadas a fazer.



                           O movimento nas casas legislativas é sempre no sentido de aumentar o número de horas na escola e também o conteúdo que deve ser trabalhado nela. Recentemente tivemos a inclusão do estudo de sociologia e filosofia, o espanhol está prestes a chegar e há discussões avançadas sobre a inclusão de noções de psicologia e de direito. Tivemos ainda, há cerca de uma semana, o senado federal aprovando um projeto de lei que aumenta em 10% número de aulas obrigatórias por dia letivo. Obviamente todas essas disciplinas são importantíssimas, mas os alunos simplesmente não aguentam mais!!! O conteúdo formal que eles precisam aprender é extenso, cansativo e, na maioria das vezes, sem relação alguma com as suas vidas. Não que o conteúdo deva ter essa relação, mas isso só torna as coisas ainda mais desinteressantes.

                           Acredito que o caminho a ser traçado deva ser o inverso, a diminuição do conteúdo. Só com isso conseguiremos ter uma escola de qualidade, na qual os alunos realmente aprenderão tudo aquilo o que se espera deles. Hoje, se ensina muito, mas aprende-se pouquíssimo e qualquer professor de escola pública ou particular, sabe disso. A porcentagem do conteúdo realmente compreendida pelos alunos chega a ser vergonhosa.



                           Outro problema da escola em período integral é a internação dos alunos nessa escola. Crianças precisam de liberdade, ter um período do dia em que não tem nada para fazer, brincar com os amigos, jogar vídeo-game ou ficar na internet, que seja. Elas precisam ter esse tempo para criar independência e responsabilidade sobre seus atos. Não é a vida delas que tem que estar dentro da escola, mas sim a escola que tem que estar dentro da 
 vida delas. Está acontecendo uma inversão de valores. Nossas crianças precisam de mais liberdade, de viver um pouco fora do mundo politicamente correto das escolas, do mundo esterilizado para o qual parece que estamos caminhando.

                           Os argumentos colocados acima, foram considerando que as escolas em tempo integral serão como dizem que serão, o que sabemos que é utópico demais. Provavelmente, ao invés de ter as seis ou sete aulas tradicionais que têm hoje, os alunos passarão a ter 10 aulas igualmente tradicionais de matemática, português, história, sociologia, direito, psicologia, etc. Ninguém aguentará isso! Esses alunos sairão da escola sem preparo nenhum para pegar um ônibus sozinho, afinal eles não terão tempo para isso se passarem o dia todo na escola.

                           O Brasil avançou muito em educação nas duas últimas décadas, conseguimos o que quase país nenhum do mundo possui, a universalização dos ensinos básicos e médios, e estamos em processo de universalização do ensino superior. O desafio que está posto agora, é a melhora da qualidade de ensino, e para isso é preciso primeiro acertarmos o que já temos, a nossa escola de meio período e universalizada e não ficarmos colocando cada vez mais horas de aula, afinal, as que temos já nos dão dor de cabeça suficiente.