segunda-feira, 11 de abril de 2011

Construindo José

"Construção" e "E agora, José?" sempre foram duas coisas que me encantaram demais! Primeiro o poema do Drummond. Um amigo do meu pai (José), deu um quadro com esse poema para ele. Ficava lá, pregado no corredor da casa. Sempre lia, e cada vez que lia, um pouco mais velho, ia entendendo a beleza daquelas palavras.



Já construção é daquelas coisas q a gente não presta muita atenção no começo. Descobri ela de verdade quando estava lendo sobre músicas com proparoxítonas e vi aquela coisa cheia de "métrica, rima e muita dor".

Indo ao post logo, resolvi juntar as duas coisas, verso a verso. Isso deve ter algum nome complicado que o professor Pasquale deve saber:

Construindo José

Como se fosse a última festa
Beijou sua mulher no apagar das luzes
Como se fosse único no meio do povo
A espinha esfriava a cada passo tímido.

José erguia-se em construção
Como você entre paredes sólidas
Um mágico sem nome
Zombando a cada lágrima
fazendo versos como se fosse sábado
Protestando pelo arroz com feijão.

José bebeu, dançou, gargalhou
Sem mulher, bêbado, no céu...
Papagueou um discurso,
um carinho flácido...
Agonizou sem beber
Fumou o tráfego
Cuspiu o último amor.

O beijo era como o dia que não veio
O bonde passou, como a perda do filho
Rir era como atravessar a rua bêbado
Utopia, como beber algo sólido
Acabaram-se as paredes mágicas...
Fugindo sempre do lógico
Cimento mofado, embotado,
José era príncipe!

GRITA!
Geme, chora, dorme, cansa,
Morre...




   

Um comentário:

Gabriela Barreto disse...

Poxa, esse eu não podia deixar de comentar!

Um matemático que escreve poesias, vê se pode! Deve ser o fim dos tempos =PP (calma, é brincadeira!)

Um momento de sinceridade: Tenho lá o meu panteão, sabe? Tipo meus nomes sagrados... Chico e Drummond estão entre eles e, honestamente, eu acharia um ato hediondo e profano se qualquer pessoa tentasse fazer algo do tipo isso que você fez...

...mas, caraca!, pago pela minha língua.

Ficou muito bom mesmo, Kauan. Parabéns!