sexta-feira, 15 de abril de 2011

Transeunte.

De salto, como o de costume, comiam-na com os olhos por onde passava, na fronteira entre a vulgaridade e o mistério. Guardava consigo a sensualidade das deusas, a leveza de uma Vênus, mas que com o balançar dos braços escrevia poesia no ar, vai-vem, vai-vem, vai-vem... Os olhos de jaboticaba envolviam a mente dissolvendo a neblina que estava ali a pouco, seu cheiro embriagava, invadia as narinas como um batalhão impossível de ser freado, tomando todos os espaços, sem cerimônias. Andava firme, em minha direção, como se a cada passo, aquele salto precisasse esmagar algo em que pisava. Poderia dizer, tranquilamente, que seus cabelos pertenceram à Iracema em vidas passadas, tinha a cor dos olhos e laço nenhum poderia prendê-lo. Laço nenhum poderia prendê-la. Numa rápida, congelante e eterna troca de olhares, passou por mim e se foi como a última volta do redemuinho sumindo da pia até então cheia de esperanças. Que bom, vê-la todos os dias poderia ser perigoso demais.

4 comentários:

Anônimo disse...

Kauan está apaixonado! kkkkkkkkk

Gabriela Barreto disse...

Aaah, eu gostei muito quando você disse "[...]laço nenhum poderia prendê-lo. Laço nenhum poderia prendê-la" e gostei da conclusão, mas - e isso é só um palpite terrivelmente pessoal - acho que uma narração um pouquinho menos "mecânica" e um pouco mais abstrata teria enriquecido o texto.

Gabriela Barreto disse...

Seus últimos posts têm me lembrado muito Vinícius. Contruindo José me fez pensar em "Operário em construção" e agora esse me traz à mente "A mulher que passa"...

Unknown disse...

Soh em fazer a mencao a virgem dos labios de mel, me lembrou da terrinha, valeu o texto