quinta-feira, 14 de outubro de 2010

10pãezinhos





"Ratos!

Entrem nos sapatos

Do cidadão civilizado..."
                             
                                                                                                       Titãs

“Não nos tratem como artistas. Sou mineiro”

A frase que dá título a esse post é de Mário Sepulveda, um dos 33 mineiros que ficaram soterrados a 700m de profundidade a mais de 70 dias e nesse exato momento, acabo de ver pela televisão o resgate do último homem.

Na televisão, nos sites, nos jornais, um verdadeiro espetáculo! Coberturas ao vivo, câmera que transmitia as imagens do resgate a 700m de profundidade ao vivo para o mundo todo, a comoção das famílias, o presidente chileno presente em todo o momento, recebendo, inclusive, uma ligação de apoio do nosso presidente. Realmente comovente, e sem ironias.

Mas (nesse blog encontrarão muitos "mas") em nenhum lugar vi sequer uma discussão que fugisse um pouco de todos esses fogos de artifício e de toda essa comoção, como, por exemplo, as condições de trabalho de uma profissão em emprega 1% da força de trabalho do mundo e registra 8% dos seus acidentes fatais. A industria de mineração é uma das que mais movimenta dinheiro em todo mundo, tendo como uma de suas maiores representantes a brasileira covardemente privatizada, Vale do Rio Doce.

É incrível que uma indústria que gira tanto dinheiro no mundo, tenha seus funcionários trabalhando sob situações de incrível risco à vida e à saúde, sempre com o lucro como único objetivo. Incrível também é a cumplicidade de uma mídia que em momento algum nesses 70 dias se preocupou em expor as condições subhumanas nas quais aqueles e tantos outros milhares de mineiros do mundo todo trabalham para fornecer os bilhões de lucros aos seus patrões. É muito mais interessante tratar os eventos com superficialidade e histórias de heroísmo que aproveitar um assunto que deve sim ser noticiado, para colocar em pauta as condições de trabalho em que se encontravam essas pessoas, numa mina que estava interditada até 2008 por falta de segurança e teve sua exploração liberada devido ao lobby das grandes empresas.

Está cada vez mais comum a banalização da tragédia e a abordagem isolada e glamourizada de casos que são resultados de uma série de condições que sequer são lembradas. É só pararmos para ver casos como o dos mineiros, o do goleiro Bruno, do casal Nardoni, da menina Eloá, e centenas de outras vítimas de situações que envolvem discussões muito mais profundas que o maniqueísmo midiático com que são tratadas. Tratemos os mineiros como mineiros e não como artistas e teremos dado o primeiro passo para nos tornarmos mais humanos e conscientes das responsabilidades de cada um nesses raros casos de todos os dias.

O primeiro

Bom, há um tempo venho enrolando para criar um blog para escrever um pouco sobre tudo mais. Será um blog basicamente de opiniões e recomendaçoes sobre música, política, internet, televisão, matemática, quadrinhos, etc, etc e etc