segunda-feira, 4 de abril de 2011

A solução é fumar os carros!

Quatro coisas inspiram o post de hoje: um poema, uma reportagem, uma música e um documentário.

O poema

Cota zero

Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?

Carlos Drummond de Andrade


A reportagem

Por trânsito e poluição, China faz sorteio para comprar carro ( http://twixar.com/ftsB3 )


A música




O post

A relação sobre a qual falarei aqui surgiu pela primeira vez quando estava num ônibus voltando do trabalho e levei nada menos do que 30 minutos para percorrer 3 quarteirões (Leia de novo o poema acima agora). Comecei a imaginar opções para resolver o problema, mas nada decente vinha à minha cabeça. Pedágio dentro das metrópoles? Não adianta e é extremamente elitista. Multa para quem andar sozinho no carro pode ser uma boa, mas impossível aplicar e ainda elitista, a lei muito provavelmente não pegaria. Seria preciso um enorme processo de conscientização para que as pessoas passem a usar menos os carros. Nessa mesma hora olhei para uma mulher fumando do lado de fora de um bar e a relação se tornou óbvia.


A primeira coisa que precisa ser dita é que Freud é um cara foda e seu sobrinho Edward Bernays ganhou muito dinheiro com isso. Bernays foi um dos criadores do marketing moderno e ele se utilizou da seguinte premissa levantada pelo seu tio: é tudo sobre sexo. Foi ele quem introduziu o sexo nas propagandas e com isso a revolucionou, desde as pin-ups (ahhh, as pin-ups) até o cigarro como símbolo de sexualidade. E é aí que entra a relação entre os 30 minutos para atravessar 3 quarteirões e a mulher fumando. O carro é o novo cigarro. Carros são diretamente ligados à sensualidade, basta dar uma olhada em umas propagandas. "Ah, são propagandas idiotas" Sim, tão idiotas quanto os galãs e as musas de Holywood fumando após o sexo nos filmes que ajudaram a alavancar as vendas do cigarro.

É muito interessante ver a inversão de valores que tivemos com o cigarro no passar dos anos. Há 4 décadas, era a coisa mais glamurosa do mundo, apresentadores de tv fumando ao vivo, artistas, grandes ícones do pop mundial. Hoje esse status todo ainda aparece só nos adolescentes querendo mostrar que são fodas e acham que fumar é uma ótima maneira de fazer isso. As estrelas evitam ao máximo fumar em público, as leis limitando o fumo são cada vez mais severas, as campanhas anti-tabagismo chegam a ser constragedoras. Fumar virou vergonhoso na maioria dos ambientes. Tenho toda a certeza que a longo prazo, o número de fumantes diminuirá drasticamente depois de tudo isso.

E no cigarro temos a lição de como começar a resolver grande problema das grandes cidades do mundo: o trânsito e a poluição causada por ele (a reportagem acima mostra o desespero da China quanto a isso). Já existem algumas campanhas tímidas para que as pessoas evitem o uso do carro, mas a força da indústria automobilística é enorme. Já temos algumas leis que limitam o uso do automóvel, como o rodízio em São Paulo, por exemplo. Mas, para mim, a questão só começará a ser resolvida quando começarem a pegar pesado, assim como nas campanhas anti-tabagismo. Usar o carro para ir trabalhar a alguns quilômetros de casa ou para ir até a padaria deve ser tão constragedor quanto acender um cigarro numa roda de não-fumantes. O raciocínio é simples: As campanhas para o consumo de carro e cigarro se baseiam praticamente nas mesmas coisas: sexo e poder. Apenas campanhas parecidas serão capazes de acabar com esses dois problemas.

Ah, só pra deixar claro: se eu tivesse dinheiro a primeira coisa que faria é comprar um carro. E obviamente iria até a padaria ou trabalhar a alguns quilômetros daqui com ele.



O documentário


2 comentários:

Hauanni disse...

Concordo com vc Kau,mas não 100%.Li a reportagem,a poesia,a música e o documentário,mto bom o material.Me assustei quando li que a pop. de são paulo está em torno de 37 milhões!Nossa.Mas esse negócio de uma campanha dos mesmos moldes do cigarro eu não gostaria.A que a pessoa que fuma está prejundicando a si mesmo apenas,hoje com as leis para regulamentar os lugares onde as pessoas podem ou não fumar houve uma queda acentuada no número de fumantes passivos,com a lei sentimo-nos mais a vontade para pedir que uma pessoa apague o seu cigarro quando incomodada.E com os carros é inevitável que fiquemos expostos a poluição.E tem outra coisa,mas isso foge um pouco do que vc escreveu vocês já viram as campanhas anti-tabagismo do ministério da saúde?Com fotos de crânios abertos(cigarros podem causar acidentes vasculares),ou pessoas sem os dois braços(cigarro pode causar gangrena),ou fotos de bocas sem alguns pedaços(cigarro pode causar câncer de boca,faringe e esôfago),pacientes em estado terminal com um aspecto de inanição ao lado de seus supostos filhos,que estão chorando na cena (cigarro pode causar a puta que o pariu!),etc,etc,etc...
Esse é um tipo de campnha que revela uma agressividade e um despreparo das pessoas que as fazem,do mesmo nível daquelas
faziam campanhias pró-tabagistas.Alguém aqui acha que seu filho não vai fumar porque ele viu frangmentos de cérebro na caixinha do cigarro?Ou será que isso faz parte de um processo de conscientização que deve vir através dos pais e de campanhas "saudáveis"?No máximo a criança vai ficar temerosa de que num domingo qualquer,enquanto ve seu pai assistindo o futebol e acendendo seu cigarro,a cabeça dele exploda deixando pedaços por toda a sala.Bom viajei demais acho.Se vc ainda estiver lendo,só queria chamar ateñçao pra esse negócio do cigarro,que eu acho muito grave.E por último, como assim,"a primeira coisa que eu faria seria comprar um carro e ir ateh a padaria ou trabalhar a alguns quilometros de distância?"Isso faz com que tudo que vc escreveu não valha nada.Ou a gente acredita nas nossas ideias,ou então vamos resguardá-las junto com nossa vergonha.
Umn abraço KAU...
Primeiro comeeeeeeent =D

Izabela Buzetti disse...

Uhul!!
que bom que encontrou o documentario! Lembra que enchi seu saco (e de mais umas 20 mil pessoas) pra assistir: The Century of the Self?

Quanto ao resto... a gente conversa em casa (hauhauhauahuahuahuaha)