domingo, 2 de outubro de 2011

Risonha e corrosiva *

                     No masturbar da mente o compositor escreve, rabisca, setas apontam as emendas. O dicionário está posto, a chuva fina insiste em brotar, a cada palavra uma cicatriz nasce enquanto se coloca a pensar nas maiores das dores, causadas pelos maiores dos amores.

                    Seu melhor terno, o sapato engraxado, a lua sobre o chapéu, ingressos em mãos. Mãos que passam pelo seu corpo antes de poder entrar. Poltrona 15D, o assento é aveludado, a vista razoável, o melhor que havia  conseguido. Os instrumentos cantarolavam as primeiras notas, suas cicatrizes saíam pela boca do intérprete, o ciúmes tomava seu corpo cruel e vagarosamente, estava sendo traído pela sua própria obra, ali, com outro, na sua frente.

                     Aos poucos as palmas e os gritos tomam o lugar dos instrumentos, o outro tem seu nome entoado pela plateia e as lágrimas escorrem na face do senhor de sapato engraxado e chapéu que está se movendo para a saída.


*O título é retirado dessa música, de um de nossos maiores compositores.