sexta-feira, 13 de maio de 2011

Por uma escola em meio período.




                            Já é discurso padrão de todos os setores da nossa sociedade que a prioridade de todos os governos deve ser a educação. Chega a irritar a hipocrisia escondida na facilidade do discurso. Gostaria de ver a reação desses mesmos setores da sociedade se o governo resolver tirar dinheiro dos financiamentos de automóveis que eles tanto adoram comprar para investir em educação.

                            Nesse discurso, é um ponto comum a defesa das escolas em período integral. Com ela as crianças teriam uma educação de melhor qualidade, seriam cidadãos melhores, teriam aulas de dança, teatro, expressão corporal e mais uma gama de atividades lindas e maravilhosas. Concordo que seria ótimo se todas as nossas crianças possuíssem acesso a todas essas atividades e mais uma infinidade de outras, mas ter acesso é completamente diferente de serem obrigadas a fazer.



                           O movimento nas casas legislativas é sempre no sentido de aumentar o número de horas na escola e também o conteúdo que deve ser trabalhado nela. Recentemente tivemos a inclusão do estudo de sociologia e filosofia, o espanhol está prestes a chegar e há discussões avançadas sobre a inclusão de noções de psicologia e de direito. Tivemos ainda, há cerca de uma semana, o senado federal aprovando um projeto de lei que aumenta em 10% número de aulas obrigatórias por dia letivo. Obviamente todas essas disciplinas são importantíssimas, mas os alunos simplesmente não aguentam mais!!! O conteúdo formal que eles precisam aprender é extenso, cansativo e, na maioria das vezes, sem relação alguma com as suas vidas. Não que o conteúdo deva ter essa relação, mas isso só torna as coisas ainda mais desinteressantes.

                           Acredito que o caminho a ser traçado deva ser o inverso, a diminuição do conteúdo. Só com isso conseguiremos ter uma escola de qualidade, na qual os alunos realmente aprenderão tudo aquilo o que se espera deles. Hoje, se ensina muito, mas aprende-se pouquíssimo e qualquer professor de escola pública ou particular, sabe disso. A porcentagem do conteúdo realmente compreendida pelos alunos chega a ser vergonhosa.



                           Outro problema da escola em período integral é a internação dos alunos nessa escola. Crianças precisam de liberdade, ter um período do dia em que não tem nada para fazer, brincar com os amigos, jogar vídeo-game ou ficar na internet, que seja. Elas precisam ter esse tempo para criar independência e responsabilidade sobre seus atos. Não é a vida delas que tem que estar dentro da escola, mas sim a escola que tem que estar dentro da 
 vida delas. Está acontecendo uma inversão de valores. Nossas crianças precisam de mais liberdade, de viver um pouco fora do mundo politicamente correto das escolas, do mundo esterilizado para o qual parece que estamos caminhando.

                           Os argumentos colocados acima, foram considerando que as escolas em tempo integral serão como dizem que serão, o que sabemos que é utópico demais. Provavelmente, ao invés de ter as seis ou sete aulas tradicionais que têm hoje, os alunos passarão a ter 10 aulas igualmente tradicionais de matemática, português, história, sociologia, direito, psicologia, etc. Ninguém aguentará isso! Esses alunos sairão da escola sem preparo nenhum para pegar um ônibus sozinho, afinal eles não terão tempo para isso se passarem o dia todo na escola.

                           O Brasil avançou muito em educação nas duas últimas décadas, conseguimos o que quase país nenhum do mundo possui, a universalização dos ensinos básicos e médios, e estamos em processo de universalização do ensino superior. O desafio que está posto agora, é a melhora da qualidade de ensino, e para isso é preciso primeiro acertarmos o que já temos, a nossa escola de meio período e universalizada e não ficarmos colocando cada vez mais horas de aula, afinal, as que temos já nos dão dor de cabeça suficiente.

5 comentários:

Henrique Figo disse...

O problema maior é o paradoxo existente entre querer que os alunos fiquem em período integral na escola e a má remuneração dos docentes e especialistas. Aliás, esse último é sempre deixado para última análise. Afinal não trabalhamos: apenas "damos aula".

Unknown disse...

Admito que em alguns pontos você está certo, mas ainda não concordo com você.

Beijos!

Jéssi disse...

Penso que o Brasil não está preparado culturalmente para ter escolas integrais, fora a má remuneração dos professores, já citada, que não incentiva em nada os mesmos a quererem trabalhar com uma carga horária maior nas escolas públicas.

Éli disse...

Também tem toda a relação de aulas que não acontece. Hoje somos educados como se fossemos uma grande mesa com milhares de gavetas. Cada conteudo ensinado corresponde a uma gaveta especifica que será fechada logo após o conteudo ser passado e, que, só deus sabe quando essa gaveta vai ser aberta novamente.
Outra coisa. Somos domésticados intensamente dentro da escola. É um assunto bem clichê, até. Mas toda a revolta estudantil ocorre pelo fato de que a escola, como ela é hoje, não faz o menor sentido. Não participamos da criação das matérias e ainda "absorvemos" forçadamente. Um cumulo...

Taís K. disse...

Concordo com várias coisas... O grande perigo de a escola virar integral é mesmo o que vc falou, de os alunos terem "10 matérias formais"... Mesmo assim, acho que vale a pena lutar pela obrigação do período integral da escola pública... É o que dizem, a criança de classe baixa sai da escola e fica assistindo TV ou convive com violência, ou joga videogame, as crianças não aproveitam mais esse tempo de liberdade como antes...é tudo virtual! enquanto isso, as crianças da escola privada e fazem inglês, kumon, natação... e isso aumenta a desigualdade na educação das classes altas e baixas.

Mas, claro, esse segundo período deve ser muito pensado, as crianças têm seu limite como nós...