domingo, 3 de junho de 2012

Trinta e três músicas


 Com o ranger do gancho na parede, a cada vai e vem naquela rede, na fazenda, debaixo daquelas lágrimas que eu céu enviava. à flor da pele, pensando em seu estranho amor.

Ela ficara ali, marcada feito tatuagematé o fim. Aquela carta em suas mãos, com todos os seus quereres era apenas uma de tantas provas de carinho que já haviam passado das mãos dela para as suas, das suas para as dela, nas duas juntas, coladas, como se não quisessem se soltar jamais. E não queriam.

saudade espremia todos os seus sonhos, da juventude transviada que dividiriam, do guri que um dia haveriam de ter, das manhãs em que acordaria debaixo dos seus caracóis, debaixo daquela mesma chuva que ouvia junto ao ranger da rede. Os desvaneios, seu mundo rompido, seus navios queimados, seu coração que ela guardou e não lhe devolveu mais, das valsas que ficava ensaiando em frente ao espelho para nunca chamá-la para dançar, das vezes em que lhe acordava com um cochicho desafinado ao pé do ouvido cantarolando aquela música que levava o seu nome.

Era como se tudo fossem dragões, a solidão lhe apertava, de noite na cama não pregava os olhos, a xingava, a odiava, resmungava maldições e com isso reinventava o amor em seu coração vagabundo todas as noites.

Que maravilha seria se a roda resolvesse voltar, se o sinal fosse aberto novamente, pedia piedade e sabia que algumas coisas os olhos não podem ver. Tinha uma só certeza: iria levando, levando, e não se afobaria não, que nada é para já.