terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ponto e vírgula.

                            Há alguns meses tive uma daquelas noites que valem todas as penas: um sociólogo, um historiador, um professor de literatura e um matemático (presente!) levemente embriagados, discutindo calorosamente "Olhos nos olhos" por mais de hora, cada um com a sua interpretação da música.

                           Ontem estava ouvindo "Não enche" e me lembrei daquela conversa. As músicas se tocam, parece que cada uma delas conta um dos lados da história. Duas músicas completamente diferentes, cada uma com a personalidade e o ritmo de cada um dos dois, dois completamente diferentes.

                          Ambos brigando, no momento da raiva, ele parado na porta, com a mala pronta, ela ali, sentada no sofá, choramingando pragas e prometendo para si mesma que um dia o esquecerá e que "estará refeita, pode crer". Um mais raivoso, mais direto, que xinga, que tenta humilhar, que está sufocado, que quer gozar e repete "Eu vou viver sem você" a todo momento tentando se convencer disso. O outro lado, mais melancólico, mais ressentido, que mostrará que "sem ele, passa bem demais". Um lado muito mais delicado e muito mais habilidoso na arte de atingir com os "muitos homens me amaram bem mais e melhor que você". Mas ambos, ambos estarão de portas abertas um para o outro, sempre esperando uma volta. Dois orgulhosos, que não darão o braço a torcer, que fazem questão que o outro o veja muito bem sem ele, mas que lá no fundo, no fundo, esperam que o ponto ganhe uma vírgula e que "Quando talvez precisar de mim, você sabe que a casa é sempre sua, venha sim."







Um comentário:

Ana Fontenelle disse...

Otimo texto
eu diria que não só eles esperam o ponto e virgula, mas é algo muito mais inerente ao ser humano. Grandes paixoes, mesmo quando destrutivas, nos dao a sensacao de que jamais acabarao.

Talvez seja um ledo engano humano. Provavelmente seja.